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Estamos em 2030 e a Europa aderiu ao clube dos trilionários do setor tecnológico. Duas empresas europeias do setor tecnológico estão agora avaliadas em mais de um trilião de dólares, juntando-se a um clube que, em 2020, era apenas composto por empresas americanas. Estas duas empresas encontravam-se inicialmente orientadas para a prestação de serviços financeiros e de saúde, mas estão neste momento em expansão.

O futuro do setor tecnológico europeu, 2030

Estas duas empresas têm tido um grande destaque no desenvolvimento tecnológico. Os lucros foram sendo continuamente reinvestidos em novos produtos e serviços, assim como na rápida expansão para novos territórios. O trabalho de excelência, as margens elevadas (60%) e constantes, e a vontade destas empresas em fazer grandes apostas fizeram com que as restantes empresas do mesmo setor procurassem um novo local para se estabelecer, fora da Europa, possibilitando às duas empresas atingir uma avaliação na ordem dos triliões de dólares em menos de uma década.

Ambas as empresas, uma com sede no Reino Unido e a outra na União Europeia (UE), foram elogiadas e apoiadas pelos seus respetivos governos. A Spendtastic, empresa britânica, cresceu rapidamente ao oferecer novos tipos de serviços de crédito em concorrência direta com as empresas tradicionais de cartões de crédito. As avaliações de risco basearam-se numa vasta gama de dados para além dos métodos tradicionais, tais como dados de emprego e historial bancário. A contagem diária de passos, a probabilidade de exceder os limites de velocidade durante a condução e os comportamentos de compra de takeaway provaram ser fatores essenciais, tendo a Spendtastic os direitos exclusivos da sua utilização. A empresa era especializada em identificar consumidores com tendência para exceder os prazos de liquidação dos valores em crédito, com multas associadas.

Na última metade da década, a Spendtastic tornou-se líder mundial na identificação de tentativas de fraude. Em 2030 o seu serviço de antifraude automático conseguiu o seu milionésimo cliente e afirmou ter poupado aos seus clientes um total de 100 triliões de dólares.

A outra empresa, a SuperSecurus, está sedeada na Europa continental. Começou como um portal, sem fins lucrativos, centrado no equilíbrio entre a oferta e a procura de vacinas entre todas as regiões dos vários Estados Membros da UE. Este portal foi consequentemente premiado com um contrato para criar uma base de dados de passaportes de vacinação e uma aplicação para ser utilizada em toda a UE, que depois se expandiu para a maior parte da Europa, Médio Oriente, África, Ásia e América Latina. Licenciou os dados sobre o estado de vacinação para o crescente número de empresas que empregariam apenas quem tivesse as vacinas em dia (por volta de 2030, as vacinas estavam aptas para lidar com todas as variantes da Covid-19 de maior importância - cerca de quarenta) assim como para o crescente número de fornecedores de serviços, desde companhias aéreas a parques temáticos, que apenas aceitavam quem tivessem as vacinas em dia.

Embora inicialmente pouco consensual, esta abordagem evitou que as empresas e economias mundiais parassem. Na última metade da década, à medida que as vacinas da Covid-19 mRNA se foram tornando cada vez mais personalizadas, a SuperSecurus focou-se principalmente na oferta de tratamentos a partir de modificação de genes específicos, impulsionando o seu vasto, e exclusivo, conjunto de dados. Estes medicamentos foram utilizados para tratar e eliminar uma gama crescente de doenças principais, incluindo múltiplos tipos de cancros, bem como, de forma oculta, prolongar o a esperança média de vida. Estes tratamentos da SuperSecurus foram oferecidos pelas principais empresas aos seus colaboradores como um privilégio, para atrair novos colaboradores e manter os existentes. A partir de 2030, a área mais lucrativa da empresa era a alteração genética personalizada, que estava a ser aplicada para combater alguns tipos de demência específicos.

As valorizações na ordem dos triliões de dólares e as valorizações exponenciais das empresas europeias tecnológicas de menor dimensão têm sido um trunfo para a confiança da região, e uma recompensa para o audaz, mas ponderado, empreendedorismo europeu. Contudo, existem alguns pontos negativos. O domínio das grandes empresas (valorizadas em triliões de dólares) restabeleceu ainda mais o equilíbrio do poder entre o setor privado e o setor público. Agravou-se a diferença em termos digitais, tanto entre países, como dentro dos próprios países. A riqueza está concentrada em alguns indivíduos. Por último, mas não menos importante, as novas start-ups são agora mais cautelosas antes de avançar para novos setores de atividade, dada a possibilidade das grandes empresas virem a engolir ou absorver a sua pequena empresa ou, pior ainda, meter-se no seu caminho logo após os primeiros sinais de sucesso.

Este cenário corresponde a uma das quatro visões do futuro. As empresas são fictícias, mas a narrativa é baseada em factos, eventos e tecnologias reais.

 

 

Os drivers e impulsionadores do cenário
«Who Wants to be a Trillionaire».

As duas grandes empresas (valorizadas em triliões de dólares) tornaram-se centros de inovação nos seus países de origem. Têm grandes laboratórios de I&D, e estudam ativamente o mercado europeu, e não só, à procura de propriedade intelectual para adicionar ao seu portfólio. Um resultado comum para as empresas de tecnologia de rápido crescimento na Europa é serem compradas por estes dois gigantes, mesmo que a tecnologia adquirida acabe por nunca ser utilizada. Um número crescente de I&D tecnológico nas universidades de toda a Europa está concentrada em antecipar as necessidades dos dois gigantes da tecnologia.

Os grandes talentos das universidades europeias na área da tecnologia são frequentemente seduzidos pelas recompensas financeiras e prestígio oferecidos pela Spendtastic e pela SuperSecurus, reduzindo o talento disponível para os restantes players do mercado. Os antigos alunos das duas gigantes da tecnologia criam frequentemente as suas próprias start-ups, por vezes com a intenção de as mesmas serem compradas pelo antigo empregador.

Inspiradas pelas duas grandes empresas tecnológicas, outras empresas europeias do mesmo setor mantêm-se os seus fundadores na cadeia de gestão, em vez dos substituírem por gestores profissionais, como acontece com muitas outras, criando-se uma cultura empresarial semelhante à dos EUA, mas com algumas mudanças, tais como as bicicletas elétricas subsidiadas. As escolas de negócios escrevem uma série de casos de estudo sobre as duas grandes empresas europeias: quase todos os alunos de MBA das principais escolas também querem ser trilionários.

O nível de capital encontra-se em níveis históricos, embora não esteja uniformemente distribuído. Os dois gigantes tecnológicos têm acesso a reservas de dinheiro aparentemente ilimitadas para financiar a sua própria investigação, investir com vista a perturbar outras indústrias e prosseguir uma estratégia muito ativa de M&A a uma taxa média de uma aquisição por semana. Entraram no mercado fundos para identificar e investir em empresas que os dois gigantes tecnológicos possam querer comprar em algum momento.

As duas grandes empresas geraram uma atividade económica significativa nos seus países de origem. Dominam as bolsas de valores nacionais; os seus colaboradores pagam o imposto de rendimento mais elevado por pessoa para uma empresa da sua dimensão; são grandes mecenas das artes e instituições de caridade. A maioria dos líderes políticos aclamam publicamente estes gigantes tecnológicos, embora em privado se sintam enfraquecidos pelo poder crescente e pela influência que estes dois gigantes têm, particularmente no que diz respeito aos subsídios disponíveis.

O aparecimento destas grandes empresas (valorizadas em triliões de dólares) foi inicialmente felicitado pela maioria dos partidos políticos. Mas a partir de 2030, nem todos estão contentes. Os países europeus que não acolhem as sedes dos gigantes da tecnologia são menos beneficiados. Este desequilíbrio causa fricção entre os Estados Membros da UE.

As avaliações de triliões de dólares obtidas por duas empresas europeias do setor da tecnologia redefiniram as perceções da capacidade da região no espaço tecnológico. A Europa é agora considerada como um concorrente sério, em vez de apenas um viveiro de talentos, em vez de uma universidade.