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Para quando a implementação do 5G?

A implementação de redes 5G de alta performance a nível nacional poderá ser longa e desafiante

O futuro da rede de comunicações móvel já chegou, mas está longe de estar acessível a toda a população. O 5G irá trazer muitos benefícios, mas também desafios de implementação que se traduzem numa experiência de utilização diferente ao longo do tempo e em diversas regiões. Assim, é fundamental entender que soluções promovem maior cooperação e investimento partilhado, para garantir uma massificação do 5G mais rápida e uniforme.

Mudanças disruptivas para alguns consumidores

Para a maioria dos consumidores o principal benefício do 5G será a maior largura de banda, que permitirá descarregar conteúdos com recurso aos dados móveis em escassos segundos, ou assistir a streaming de alta definição.

Mas para os gamers ou heavy digital users a reduzida latência (tempo de resposta da rede) e a possibilidade de suportar maior densidade de equipamentos em simultâneo, permitirá que gozem de experiências muito mais disruptivas. A mesma situação é aplicável em contextos de streaming de eventos ao vivo, onde através de câmaras ligadas à rede 5G os espectadores podem assistir ao espetáculo de diferentes ângulos – por exemplo, colocando-se nos olhos de um jogador de futebol, ou assumindo uma visão panorâmica sobre o campo ou o recinto. Clubes desportivos como o Barcelona FC, Manchester United, ou Arsenal já começaram a implementar redes 5G nos seus estádios para oferecer este tipo de experiências.
 

O que esperar da evolução do 5G

No entanto, a oferta de um serviço 5G disponível para toda a população só será possível com recurso a um investimento considerável em nova infraestrutura de comunicações, o que traz, naturalmente, os seus obstáculos próprios.

É previsível antever uma disponibilização assimétrica desta nova tecnologia, com um primeiro foco nos principais centros urbanos, economicamente mais atrativos. Em zonas suburbanas e rurais, espera-se que durante algum tempo apenas estejam disponíveis funcionalidades “5G-lite” , ou o atual 4G, devido ao custo de implementação elevado e menor retorno. É ainda previsível que grandes empresas comecem a implementar redes privadas 5G para assegurar comunicações móveis de excelência em espaços como recintos de entretenimento, armazéns, fábricas ou portos/aeroportos, que requerem um elevado nível de automação, processamento de informação e de equipamentos ligados sem fios.

Em Portugal, o Governo publicou no início deste ano o plano nacional para a implementação desta nova tecnologia, com o objetivo de garantir o acesso a 90% da população até ao final de 2025. O plano proposto segue uma abordagem favorável à mitigação de uma implementação assimétrica do 5G, através da definição de metas claras para concelhos do interior e infraestruturas de transportes e associadas a serviços públicos de educação e saúde.

Redes de comunicações mais densas

De modo a tornar a conectividade de alta velocidade omnipresente, é necessário que as redes de 5G sejam significativamente mais densas face às tecnologias anteriores, o que requer a implementação de um maior número de antenas e de fibra ótica para garantir o nível de cobertura necessário para disponibilizar todas as suas funcionalidades. Por exemplo, na Holanda estima-se que o número de antenas poderá ter de aumentar entre 3 a 5 vezes para sustentar as redes de 5G operando em frequências mais altas (por exemplo, 3.5GHz).

Assim, os operadores de telecomunicações deverão trabalhar em conjunto com os municípios para desenvolver formas inovadoras de fazer o roll-out da rede, podendo, por exemplo, ser aproveitada infraestrutura já existente, como as lâmpadas de rua ou semáforos, gerando fontes adicionais de receita para as câmaras municipais.
 

Mais flexibilidade e menos custos com Open RAN

Outra alternativa para reduzir o investimento do 5G e acelerar a sua implementação passa pela adoção de tecnologias Open RAN (Radio Access Network), que consistem na utilização de equipamento de rede composto por hardware de “marca-branca” e software open source, provenientes de diferentes empresas tecnológicas. Desta forma, as operadoras conseguem diversificar a sua base de fornecedores e reduzir a dependência atual dos principais vendors de equipamentos de rede globais.

Tecnologias como o Open RAN podem trazer benefícios também às grandes empresas no que respeita à utilização do 5G, podendo estas recorrer diretamente a prestadores de serviços que implementem redes privadas nas suas instalações, sem recorrer aos operadores de telecomunicações para tal. Neste sentido, muitos operadores estão a desenvolver novos serviços dedicados a estas empresas, como é o caso da Deutsche Telekom na Alemanha, que anunciou recentemente o produto Campus L, que oferece a uma empresa a sua própria rede móvel privada.

O potencial do 5G proporciona às empresas a oportunidade de melhorar a qualidade dos seus serviços e a eficiência das suas operações, bem como de explorar potenciais inovações que exijam comunicações móveis com maior largura de banda, menor latência ou mais equipamentos ligados em simultâneo. Para tal, estas devem garantir um papel ativo no ecossistema do 5G, trabalhando em conjunto com os operadores de telecomunicações, fornecedores de hardware e software e integradores, para se posicionarem entre os pioneiros na adoção desta tecnologia e maximizar a captura dos benefícios do 5G.
 

Partilha de rede para acelerar a implementação

Os desafios associados à implementação do 5G são evidentes, com destaque para a elevada necessidade de investimento e complexidade de execução. Adicionando à equação a incerteza relativamente às novas fontes de receita que o 5G irá gerar, é expectável que os operadores de telecomunicações incorram numa fase de planeamento mais longa e cautelosa que o habitual. Um dos mecanismos para atenuar este desafio consiste em recorrer à partilha de rede e infraestrutura entre vários operadores.

Espera-se que a partilha de rede de 5G não envolva apenas os componentes passivos (exemplo: torres, postes, energia) como já acontece hoje em dia, mas que os elementos ativos (exemplo: antenas) e o espectro comecem também a ser partilhados entre os operadores. Por exemplo, em Itália a Vodafone e a TIM anunciaram um acordo para partilha de rede ativa no âmbito do 5G, com o objetivo de atingir uma implementação mais rápida e com menores custos. Outros países Europeus como o Reino Unido e Alemanha estão também a considerar estas oportunidades.

Em Portugal, a ANACOM tem vindo a reforçar a importância da partilha de infraestrutura e coinvestimento entre operadores de modo a garantir uma melhor cobertura em todo o país, sobretudo no interior. Em resposta ao desafio da ANACOM, a NOS e a Vodafone assinaram no início deste ano uma “Carta de Intenções” para partilha de ativos móveis com abrangência nacional, garantindo uma cobertura mais rápida do território e repartindo os custos, mas mantendo a independência estratégica das suas redes.

Muitos operadores estão ainda a apostar numa estratégia de criação de empresas de torres independentes (TowerCos), com o objetivo de monetizar a infraestrutura, garantindo os fluxos de caixa necessários para acelerar a implementação do 5G. A título de exemplo, a Vodafone está a planear criar ainda este ano uma TowerCo, para onde irá transferir a sua infraestrutura de rede de acesso passiva que contabiliza 61.700 torres em 10 países europeus.
 

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