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Quem vai beneficiar com o 5G?

As empresas deverão ser os grandes beneficiários do 5G, para os consumidores a evolução será mais gradual 

O 5G tem potencial para transformar radicalmente o mundo que conhecemos hoje, vindo a substituir algumas tecnologias atuais como o 4G.

Para além do aparecimento de novas e inéditas aplicações no longo prazo – como os veículos industriais autónomos, operação remota de maquinaria pesada, e robots de inspeção, entre outros – o verdadeiro e mais imediato impacto da tecnologia não vai estar aos olhos de nós consumidores, mas sim nos bastidores: dentro de fábricas, armazéns e outras instalações industriais, derivado dos elevados benefícios projetados das comunicações massivas entre máquinas.
 

Mais dados, decisões mais acertadas

É esperado que o 5G traga melhorias exponenciais em relação à tecnologia atual, suportando ligações mais rápidas, elevada densidade de equipamentos ligados e reduzindo a latência para perto de zero, permitindo tempos de resposta imediatos e uma experiência quase instantânea. São estas características e funcionalidades que poderão impulsionar e conduzir a transformação digital das empresas e dos seus colaboradores.

Essencialmente, as empresas poderão monitorizar os seus ativos de forma mais próxima e com um custo significativamente inferior, tendo acesso a dados e informação em tempo real, necessários para tomar decisões mais acertadas e com um maior impacto.

Pensado para suportar massive machine type communications – mMTC – o 5G poderá permitir uma maior densidade de conexões e facilitar a massificação da conectividade entre máquinas e equipamentos, amplificando os níveis de automação e controlo remoto das empresas, derivados pelo acesso a um maior número de dados e informação em tempo real. Usufruindo de um mais alto poder de computação e a maiores níveis de robótica, as instalações industriais poderão utilizar equipamentos conectados para detetar padrões nos dados transferidos e otimizar as suas atividades. Por exemplo, um veículo de carga ou uma linha de produção conectada pode alterar proactivamente as suas instruções de distribuição ao detetar ineficiências no processo, sem a necessidade de intervenção humana. A comunicação massiva entre máquinas irá permitir uma melhor coordenação entre os vários componentes da cadeia de valor industrial, alavancando a escalabilidade das operações e reduzindo significativamente os custos.
 

Uma rede mais versátil, um serviço mais personalizado

Numa era em que as pessoas acedem cada vez mais a serviços online de multimédia, a expetativa da sociedade é também cada vez mais exigente, procurando um serviço com mais qualidade. O 5G vai ajudar os operadores a responder a esta crescente procura ao suportar enhanced mobile broadband – eMBB –, melhorando a capacidade e velocidade da rede, e por sua vez, a experiência do consumidor.

Não obstante, o valor criado pelo 5G não está limitado pelo número e duração das ligações dos consumidores. Ao trazer consigo uma rede mais robusta e mais complexa, o 5G vai permitir a conexão entre milhões de equipamentos e transportar uma enorme quantidade de dados. A massificação da conectividade entre máquinas apresenta um enorme potencial para contribuir para um aumento da produtividade das empresas e cidades, e criação de novos postos de trabalho, podendo impactar positivamente o PIB.

O 5G foi também pensado para oferecer ultra reliable low latency communications – uRLLC, permitindo que as comunicações entre máquinas e equipamentos se tornem quase instantâneas mantendo um alto nível de segurança e fiabilidade. Este serviço poderá facilitar, por exemplo, o desenvolvimento de aplicações como equipamentos controlados remotamente para fins industriais (ex. operação remota de maquinaria pesada e robots de inspeção) para o qual a comunicação em tempo real com latência reduzida é determinante.

Uma característica chave do 5G, ao contrário das gerações anteriores, é a de permitir network slicing, o que significa que a rede poderá ser dividida em diferentes camadas, possibilitando os operadores a configurar cada camada para suportar uma aplicação específica ou um segmento de utilizador que exija qualidades de serviço diferentes. É possível tirar partido desta característica uma vez que a arquitetura do 5G é assente fundamentalmente em software (Software Defined Networks) que permite uma maior e mais rápida configuração das suas funcionalidades, o que a torna não só mais robusta como também mais versátil.

As possíveis aplicações do 5G são apenas limitadas pela imaginação. Falamos, por exemplo, de facilitar e simplificar o acesso a sistemas de saúde, impulsionados por diagnósticos e cirurgias remotas, ou melhorar os serviços municipais, otimizando a gestão de resíduos e iluminação pública. No setor dos transportes, será possível introduzir novos sistemas de mobilidade para gestão de frotas e rotas, reduzindo o trânsito e a poluição das cidades. Numa ótica mais industrial, o 5G poderá facilitar o uso de câmaras para supervisionamento de uma linha de produção, capturando imagens que podem ser analisadas em tempo real detetando sinais de defeitos ou ineficiências no processo, permitindo que a linha de produção tome medidas preventivas, sem a necessidade de ação humana.
 

Passo a passo

É importante ter em consideração que nada disto irá acontecer de um dia para o outro. Levará tempo até que o 5G seja implementado com cobertura nacional, pois são necessários não só ajustamentos na infraestrutura física existente e criação de novas antenas e pontos de acesso, mas também que a regulação seja adaptada e que o espetro necessário seja disponibilizado, de modo a que todas as características do 5G sejam asseguradas. Em Portugal, a banda de espectro de 700MHz e de 3,4-3,6 GHz está planeada para ser leiloada no terceiro trimestre de 2020, o que representa um atraso relativamente a outros países europeus, como Espanha, Inglaterra e Alemanha. Considerando este cenário, é expectável que as verdadeiras características do 5G só comecem a ser disponibilizadas em Portugal após a conclusão do leilão.

A adoção de 5G pelas empresas será feita de modo gradual. Numa primeira fase, os primeiros casos envolverão a substituição das soluções existentes de local area network (LAN), já que o 5G vai melhorar os seus recursos e aumentará a sua flexibilidade e a escalabilidade. Em outros casos, o 5G funcionará juntamente com o 4G e as redes corporativas existentes (assentes em Wi-Fi), preenchendo as falhas atuais e garantindo que a disponibilidade total de conectividade.

A conectividade 5G será proporcionada pelos operadores de telecomunicações às empresas, que irão utilizar esta tecnologia altamente capaz e versátil para fortalecer a sua posição na cadeia de valor. No entanto, alguns reguladores estão também a considerar a alocação de bandas de espectro diretamente às empresas, permitindo que construam independentemente as suas próprias redes de 5G privadas. Algumas empresas, como a BMW, Daimler e Volkswagen na Alemanha, estão neste momento a explorar essa opção.

Em conclusão, o 5G tem potencial para transformar e revolucionar a maneira como vivemos e como trabalhamos. As empresas podem moldar esta versátil tecnologia para atender as suas necessidades específicas, adicionando sensores a qualquer equipamento ou ferramenta, e usufruir de informação e dados em tempo real para simplificar as operações do dia-a-dia, tomar decisões mais acertadas, e tornar-se mais eficientes. Ao contrário das gerações anteriores de tecnologias móveis, o 5G atuará como um facilitador da conectividade massiva entre equipamentos, que vai eliminar os limites dos níveis de conhecimento e automação, contribuindo para o crescimento exponencial do IoT.
 

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