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Perspectivas
Insights sobre o setor de Alimentos e Bebidas
Como as empresas do segmento têm se preparado para as principais transformações do mercado
A indústria de consumo é muito ampla e diversificada. Ela agrega diferentes atividades produtivas e comerciais, englobando cadeias de valores complexas e com agentes econômicos que incluem produção, distribuição e comercialização de bens e serviços – valendo-se tanto dos meios físicos quanto digitais, como o e-commerce. Além disso, cada um dos setores que compõem essa indústria enfrenta realidades distintas e particulares em seu ambiente de negócios, inclusive as transformações que impactam diariamente empresas e consumidores.
O setor de alimentos e bebidas (A&B) é fortemente impactado pelas transformações de mercado. Com base na experiência adquirida sobre as empresas desse setor, a Deloitte preparou um artigo que traduz e detalha os principais desafios, oportunidades e tendências atuais com o objetivo de munir executivos com insumos para que tomem melhores decisões estratégicas e agreguem valor aos seus negócios.
O consumo das famílias é o maior componente da demanda agregada do Brasil, com 56% de participação na composição do Produto Interno Bruto (PIB). O setor de consumo de alimentos e bebidas responde por parte desse componente e estima-se que tenha movimentado R$ 720 bilhões em 2022. Em termos de expectativa de crescimento, a indústria pode expandir a uma taxa de 11% a.a. até 2026, sendo impulsionado principalmente pela categoria de bebidas alcoólicas.
A relevância e o dinamismo do setor de consumo no Brasil trazem consigo desafios atuais em múltiplas dimensões, a começar por fenômenos geopolíticos que vêm de fora do País, como a guerra na Ucrânia, que impacta os preços de importação de fertilizantes, impondo complexidades operacionais que requerem um olhar atento à cadeia de suprimentos via planejamento e mitigação de custos operacionais. Por outro lado, identificamos também oportunidades em mercados externos por meio das exportações, que podem ser beneficiadas por depreciações na taxa de câmbio nacional e acordos comerciais com parceiros mundo afora.
Outra dimensão de muita importância está relacionada às novas regulações e motivadores de compra do consumidor. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com o objetivo de incentivar maior transparência nos produtos, determinou que empresas da indústria devem destacar informações nutricionais em suas embalagens, como teor de açúcar, sódio e gordura saturada. Ao mesmo tempo, consumidores buscam embalagens cada vez mais atrativas e alinhadas aos seus desejos de consumo.
Fatores diferenciados (como, por exemplo, experiência sensorial) precisam ser incorporados pelas empresas de A&B, visando o desenvolvimento da comunicação por meio da identidade de seus produtos. Logo, as empresas que mais rapidamente se adaptarem às novas regulações e se atualizarem incorporando os mais exigentes desejos do consumidor, poderão gerar maior valor para suas vendas, capturando oportunidades que aliam mudanças regulatórias com preferências no consumo.
Além disso, as dimensões geográficas brasileiras e suas consequentes diferenças culturais e socioeconômicas representam um importante desafio para o segmento, exigindo que marcas tenham em seus produtos adaptações que facilitem a comunicação e identificação com consumidores das diferentes regiões do País. Com isso, empresas do ramo de A&B devem se atentar às características e preferências regionais para a construção de seu planejamento estratégico e estratégia de produtos. A coleta e análise de dados aparecem como importantes potencializadores da construção desses planos, ao suportarem os gestores com uma visão objetiva de seus consumidores e suas respectivas preferências.
Junto com o crescimento da indústria surgem as tendências que influenciam e impactam o mercado no momento e nos próximos anos. Os tópicos considerados relevantes para o setor de Alimentos e Bebidas referem-se principalmente a mudanças no comportamento do consumidor, rastreabilidade de produtos e adaptações de supermercados e de portfólio de marcas.
Consumo consciente – Entre as mudanças no comportamento do consumidor, o consumo consciente vem ganhando representatividade sobretudo entre os anos de 2021 e 2022, onde 67% dos consumidores afirmaram ter tentado causar um impacto positivo no meio ambiente por meio de suas ações cotidianas1. Prova disso é o aumento na busca por marcas com políticas sustentáveis e que possuem compromisso com a responsabilidade ambiental e a segurança alimentar.
Contudo, o crescimento dessa tendência gera desafios para as empresas que necessitam modernizar o processo produtivo por meio do uso eficiente dos recursos e do desenvolvimento de embalagens recicláveis, além de incluir em seus planejamentos estratégicos metas cada vez mais voltadas para a sustentabilidade e a obtenção de certificados e/ou selos de iniciativas ESG.
Consumo indulgente – Outra importante tendência para o setor, já que a busca por produtos que gerem satisfação, prazer e conforto, está se expandindo no mercado, sobretudo, desde o início da pandemia de Covid-19. Um estudo realizado pela Mondelez2 evidencia a forte presença do consumo indulgente no dia a dia. Nele, 85% dos millennials entrevistados disseram consumir diariamente pelo menos um snack por indulgência. Assim, produtos considerados “não essenciais” estão experimentando um aumento na comercialização, gerando desafios para as marcas, que precisam investir constantemente em inovações que promovam novas experiências, estudar a jornada do cliente de forma completa e ainda desenvolver versões cada vez menores dos produtos comercializados.
Supermercado online – Motivados pelo isolamento social oriundo da pandemia, os supermercados também passaram por mudanças, visto que atividades básicas precisaram ser repensadas. Dessa forma, compras de supermercado online passaram a ser cada vez mais frequentes, com o número de pedidos no segmento crescendo 12% – enquanto a receita aumentou 8% – no primeiro trimestre de 2022 (em comparação ao mesmo período do ano anterior3). Todo esse crescimento desafia o setor de A&B a investir cada vez mais em soluções digitais, alavancar investimentos em tecnologias e buscar parcerias com marketplaces de supermercado.
Regionalização – Para alavancar o alcance de suas vendas, diversas empresas do setor de A&B têm adaptado e personalizado seus respectivos portfólios de produtos às características regionais (socioculturais e econômicas) de seus consumidores. A busca por essa personalização ocorre principalmente na categoria de snacks, que já atingiu taxas de crescimento acima dos 20%4 em 2021. Considerando o tamanho geográfico do Brasil e as características intrínsecas de cada região, a tendência de regionalização desafia as empresas do setor a desenvolverem estudos que possibilitem a ampliação de portfólio, por meio de ingredientes sazonais e fabricação temporária, além de identificar padrões de consumo específicos do público-alvo e agregar ingredientes que promovam um paladar afetivo.
Alimentos plant-based – Outra tendência considerada muito relevante para o setor é o aumento da demanda por produtos de alimentos plant-based, que cresceu 12% em 2021 em relação ao ano anterior, enquanto as alternativas à proteína animal cresceram 11% no mesmo período5. Motivada pela crescente busca por saúde e consumo sustentável, tais mudanças nos hábitos alimentares que demandam um consumo maior de alimentos à base de plantas vêm gerando desafios para as empresas do setor, levando as mesmas a investirem cada vez mais em P&D para ampliar o mix de produtos plant-based e fidelizar consumidores, além de ampliarem seu portfólio por meio de parcerias com marcas que já possuem linhas à base de plantas.
Rastreabilidade do processo produtivo – Associada à busca do consumidor por empresas alinhadas à abordagem ESG, a preocupação dos consumidores quanto à rastreabilidade do processo produtivo e a necessidade de transparência das marcas em relação aos alimentos, representa mais uma significativa tendência para o setor de A&B. O consumidor deseja cada vez mais conhecer a real procedência do alimento e os ingredientes utilizados no seu preparo, fazendo com que as marcas adotem práticas que possibilitem acompanhar o processo produtivo de seus produtos. Prova disso é a recente padronização de rótulos exigida pela Anvisa, que permite ao consumidor identificar produtos com alto teor de açúcar, gordura saturada e sódio. Com isso, as marcas devem adaptar suas embalagens para inclusão dos selos, estudar possíveis substituições de ingredientes para opções mais saudáveis, além de investir em tecnologias que garantam o alinhamento entre os diferentes elos da cadeia produtiva.
Alimentos pré-preparados – O aumento no consumo de alimentos pré-preparados nos últimos anos representa uma tendência que também merece ser destacada pelo setor de A&B. Com uma receita que alcançou US$ 562 bilhões, é previsto que entre 2022 e 2027 o mercado cresça 6% ao ano. Esses números desafiam as empresas do setor a ampliarem seus investimentos em P&D para a criação de produtos cada vez mais rápidos, práticos e que mantenham o sabor e frescor semelhantes aos originais.
1 https://akatu.org.br/tendencias-de-consumo-consciente-para-2022/
2 https://www.mondelezinternational.com/stateofsnacking
5 https://nielseniq.com/global/en/insights/analysis/2022/top-7-food-and-beverage-industry-trends-2022/