Análise

Como será o futuro da energia?

O crescente papel do gás natural, das energias renováveis e nuclear mudará a configuração das matrizes enérgicas em todo o globo⁴

Por Carlos Nicacio ¹, Breno Medeiros ² e Suellen Higashi³

O ano de 2015 foi um marco para o setor de energia, que foi determinado por mudanças globais em direção a uma matriz energética mais limpa, com um foco maior na mudança climática e mais pessoas com acesso estável à eletricidade.

Mais de 190 países assinaram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma coleção de 17 metas globais para alcançar um futuro melhor e mais sustentável estabelecidas pelas Nações Unidas e o Acordo de Paris, um acordo no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC).

As metas dos ODS relacionadas à energia objetivam reduzir os impactos da poluição do ar na saúde, alcançar o acesso universal à energia e tomam providências para combater as mudanças climáticas e seus impactos. Na Conferência do Clima de Paris (COP21), os signatários concordaram em estabelecer um plano de ação global para limitar o aquecimento global bem abaixo dos 2º C e buscar um limite de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. Os Governos dos países signatários apresentaram seu plano nacional de ações (intitulado Contribuições Nacionalmente Determinadas – CND), o que tornou o Acordo de Paris o primeiro acordo universal vinculante sobre mudanças climáticas.  

Com o alinhamento entre o ODS e o Acordo de Paris, várias questões surgem, destacando-se entre elas: (1) Quais são as tendências de transição energética nas próximas décadas? E (2) Como as empresas de óleo e gás (O&G) estão se preparando para a transição energética?

O crescente papel do gás natural, das energias renováveis e nuclear na matriz energética; e a diminuição do consumo de carvão, especialmente nas economias desenvolvidas, tende a marcar o caminho para o processo de descarbonização até 2040. Apesar de ser um combustível fóssil, há um consenso de que o gás natural terá um papel fundamental como fonte de energia menos poluente nas próximas décadas, especialmente em relação ao carvão. É importante notar que a iniciativa público-privada do Banco Mundial, Parceria Global para Redução da Queima de Gás (GGFR), salienta que o gás natural ajuda os países a alcançar uma trajetória energética mais sustentável e desempenha um papel importante no fornecimento de eletricidade.

Embora o processo de descarbonização tenha começado, a demanda por petróleo e gás, pelo menos durante a próxima década, deve permanecer forte em termos absolutos. A Agência Internacional de Energia (sigla em inglês IEA), por exemplo, defende que, no curto prazo, ou seja, até 2025, para atender à demanda robusta de petróleo, mais projetos devem ser aprovados, além dos investimentos já previstos para a exploração de xisto nos EUA. Isso ocorre principalmente porque o declínio na produção dos campos de óleo e gás será relativamente mais rápido do que o declínio na demanda por estes hidrocarbonetos, o que explica a possível diferença apontada pela IEA entre a demanda e a oferta na próxima década.

No longo prazo, porém, as energias renováveis (com destaque para a solar, a eólica e os biocombustíveis) desempenharão um papel fundamental na descarbonização e eletrificação da matriz energética, especialmente como forma de atender às necessidades de energia primária.

As maiores petroleiras do mundo, como ExxonMobil, BP e Shell, estão planejando a transição energética, que continuará a desempenhar um papel fundamental no atendimento às necessidades globais. No Brasil, as iniciativas das empresas de petróleo estão alinhadas as tendências da transição energética. Por exemplo, a BP e a Shell estão participando de grandes e novos projetos de usinas termelétricas a gás natural no país. Além disso, a petroleira francesa Total assinou acordo para a compra de 50% de duas usinas termelétricas a gás natural da Petrobras, que estão conectadas a um terminal de regaseificação no Estado da Bahia, e a norueguesa Equinor investiu em um projeto de energia solar no nordeste.

No entanto, como é impossível prever com precisão considerando várias incertezas, o ritmo no qual as empresas de óleo e gás devem se preparar para a transição energética não é claro. Visto que envolve inúmeros riscos, especialmente considerando à natureza da indústria intensiva em capital, em que projetos geralmente têm um retorno de investimento a longo prazo.

1 sócio-líder de Energy, Resources & Industrials e GES

2 Gerente sênior de Oil & Gas

3 Gerente sênior de Clients and Indutries da Deloitte

4 Este artigo contou com a contribuição de Duane Dickson, Lider da Deloitte para o setor de Oil, Gas and Chemicals nas Américas e Aijaz Hussain, Senior Manager - Research & Insights da Deloitte US.

 

Fontes:
IEA: Sustainable Development Scenario e World Energy Outlook 2018
ExxonMobil: ExxonMobil 2018 Energy Outlook report
BP: BP Energy Outlook 2019 report
Shell: Shell’s Energy Transition report e Sky Scenario
Banco Mundial: Global Gas Flaring Reduction Partnership (GGFR)
Petrobras: Petrobras and Total advance their strategic alliance with new agreements
Equinor: Statoil enters first solar development project
Siemens: Siemens secures major order for integrated LNG-to-Power project in Brazil
Reuters: Shell, Mitsubishi and Brazil's Pátria in $700 million power JV in Rio

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