Análise

A ascensão das Cooperativas de Crédito

Em um momento promissor, as cooperativas de crédito devem lidar com os desafios e impactos da transformação digital nos negócios. 

Por Adilson Martins, líder da frente de Cooperativismo da Deloitte; Luiz Caselli, sócio de Consultoria Empresarial da Deloitte; Sandra Tokutake, diretora da Indústria de Serviços Financeiros da Deloitte.

Boa parte do mercado financeiro global enfrenta turbulências, com previsões de mais oscilações até o fim do ano. Há, no entanto, um setor que vai na contramão dessa tendência e vive hoje um cenário positivo e promissor: o das cooperativas de crédito.

Com altas taxas de crescimento, essas instituições prestam serviços financeiros como os de bancos, porém com financiamentos, créditos e outros produtos oferecidos de maneira mais vantajosa para os seus associados. Aliás, associados e não clientes – são sócios ou cooperados, que têm participação nos resultados e podem participar nas decisões da cooperativa.

Atualmente, há no Brasil 755 cooperativas de crédito , com uma rede com 7.223 pontos de atendimento. Para se ter uma ideia mais clara, o segundo lugar em termos de penetração no território nacional é ocupado pelo Banco do Brasil, que tem 4.368 agências, seguido pelo Bradesco, com 3.391 e pela Caixa Econômica Federal, com 3.372. 

Além disso, a carteira de crédito das cooperativas somou mais de R$ 207 bilhões em 2020. Fazendo um recorte histórico, também é possível observar um crescimento robusto. Isso porque entre 2016 e 2020, houve um aumento acumulado de 134,6% na carteira de crédito, passando de R$ 95 bilhões (2,74% do SFN) para R$ 228,7 bilhões (5,1% do SFN). As cooperativas – ainda de acordo com dados de 2020 – lideraram o ranking das concessões de empréstimos a pequenos negócios, sendo responsáveis por 31% do total do País.

Tais dados ajudam a dimensionar o crescimento significativo das cooperativas de crédito nos últimos anos. Mas o que está por trás dessa ascensão? A resposta é multifatorial e envolve pontos como incentivos do Bacen (Banco Central), o fortalecimento do agronegócio, a ampliação da penetração de unidades de atendimento Brasil afora, além da ampliação e do fortalecimento de políticas alinhadas às práticas de ESG. Vamos analisar alguns desses motivos mais a fundo.

Primeiramente, é preciso destacar que o crescimento do agro no Brasil é um fator crucial para alavancar as cooperativas.

Hoje, cerca de 20% de todo o crédito rural no País é concedido por meio das cooperativas. Em 2020, as cooperativas agropecuárias somaram mais de R$ 160 bilhões em ativos, um aumento de 21% em relação ao ano anterior. Os ingressos do exercício também tiveram um crescimento de 31% no mesmo período, totalizando R$ 239 bilhões.

Outro motivo por trás desse fortalecimento é o fato das cooperativas já estarem em municípios menores, onde não há a presença (e muitas vezes nem o interesse) de grandes bancos ou fintechs. Além disso, algumas cooperativas costumam focar em nichos específicos de mercado, focadas no público de baixa renda ou regionalizadas, por exemplo. Esse background acaba proporcionando um relacionamento forte com os cooperados e um conhecimento sólido das necessidades locais, o que resulta em um consequente fortalecimento dessas instituições.

Um ponto adicional a ser destacado como propulsor do crescimento das cooperativas são as estratégias corporativas que elas já adotam, focando em práticas de ESG, principalmente no que diz respeito à inclusão financeira e social. São práticas de governança pautadas no bom relacionamento com o cooperado, um grande diferencial competitivo.

Desafios e oportunidades

Tal ascensão no setor de cooperativas de crédito não viria, claro, sem uma boa dose de desafios. Um deles é manter esse importante diferencial que é o relacionamento próximo ao cooperado, mas integrando isso ao crescente uso dos canais digitais. Ou seja, estender essa proximidade e relação pessoal que já existe no presencial também para o atendimento via meios eletrônicos como WhatsApp, e-mail e mobile banking.

Aprimorar a governança é outro teste para o futuro, já que o sistema cooperativo é complexo em vários níveis por envolver cooperativas de diferentes tipos, com as singulares, centrais e centros administrativos. Como coordenar esse sistema? É preciso trabalhar processos que vão desde a definição de responsabilidades, governança entre cooperativas da mesma confederação, centralização de atividade e rateios de custos até pontos mais culturais, como mindsets diferentes entre os envolvidos. Tudo para trazer mais robustez em termos de compliance e governança para, assim, alcançar o que o cooperado mais busca: a segurança nos negócios.

Os desafios, no entanto, estão sempre atrelados a novas oportunidades. Uma delas é aproveitar este movimento de ampliação do atendimento personalizado de forma online para colocar em prática a tão necessária inclusão digital e ao mesmo tempo trazer eficiência para o atendimento.

Outra possibilidade que se abre é a busca por novas parcerias dentro de setores como Open Finance e Open Insurance, incentivando ainda mais o uso de marketplaces já implementados pelas cooperativas de crédito e diversificação de receita. Isso porque, muitas vezes, as cooperativas podem, através de parcerias com outros players do mercado, ampliar as vendas e novas linhas de receita de modo mais eficiente e com prazos mais curtos de entrada no mercado.
 

E o fato de elas já possuírem os princípios cooperativos alinhados as melhores práticas do ESG também abre caminhos para que sejam posicionadas de maneira ainda mais clara como players que podem andar na vanguarda para todo o mercado financeiro.

Apoio às cooperativas

Para lidar com os desafios do mercado, a Deloitte vem ajudando as cooperativas a repensar o modelo e posicionamento comercial com soluções para:

  • Aprimorar a adaptação crescente para o atendimento remoto e digital;
  • Estruturar parcerias com outras instituições e empresas no ecossistema financeiro para ampliar a oferta de produtos;
  • Apoiar no melhor aproveitamento de oportunidades estratégicas de ESG;
  • Apresentar soluções para desafios na base, como ampliar a eficiência operacional para se manter competitivo mesmo diante dos custos;
  • Alcançar a excelência comercial, estruturando a área com metas e jornadas personalizadas para os cooperados;
  • Conectar as cooperativas aos mais diversos especialistas, de setores que vão do design e inovação até análise de dados e automação;
  • Implementar conhecimento técnico sem abrir mão da importância da experiencia do cooperado, já que ela precisa estar sempre no centro das decisões, para que as cooperativas não percam a sua essência.
     
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